O que torna a Fé Bahá’í diferente das outras religiões?


Por Maya Bohnhoff.

Uma alma curiosa queria saber, entre outras coisas, o que torna a Fé Bahá’í diferente – e semelhante – das outras religiões? A minha Assembleia Espiritual Bahá’í Local pediu-me que lhe respondesse.

Os Bahá’ís acreditam que o espírito e a fonte da revelação de Bahá’u’lláh são os mesmos das outras religiões históricas reveladas; apenas o professor e alguns dos seus ensinamentos são novos.

A Fé Bahá’í partilha os mesmos princípios eternos e essenciais que estão no cerne de todas as religiões reveladas, sendo os dois principais ensinamentos amar a Deus e amar os nossos semelhantes.

Bahá’u’lláh afirmou explicitamente que a melhor forma de demonstrar amor a Deus é demonstrar amor pelos outros. Assim, tal como aconteceu com todos os professores espirituais que vieram anteriormente, Bahá’u’lláh reafirmou e expandiu esse princípio sagrado. Veja-se a Regra de Ouro, por exemplo; ela está presente em todas as religiões reveladas e em muitas das suas ramificações. Bahá’u’lláh afirmou-a desta forma:


Ó filho do homem! Se os teus olhos estão voltados para a misericórdia, renuncia às coisas que te são vantajosas, e segura-te àquilo que beneficia a humanidade. E se os teus olhos estão voltados para a justiça, escolhe para os teus próximos aquilo que escolhes para ti próprio. (Epistle to the Son of the Wolf, pp. 29-30)

O que difere – além do nome do professor ou porta-voz – é que os ensinamentos da Fé reflectem a época do seu surgimento. Vivemos num mundo muito diferente daquele para onde Cristo ou Muhammad surgiram. Temos comunicação mundial instantânea, um aparecimento súbito de tecnologias que tornam muito mais fácil causar grandes danos ou grandes benefícios a grandes grupos de pessoas. Temos a capacidade nesta era, como em nenhuma outra, de unir ou destruir o nosso mundo.

Assim, os ensinamentos da Fé Bahá’í são dados pelo Criador para este momento da evolução da nossa espécie, que, de acordo com as Escrituras Bahá’ís, assinalam o alcançar da “maioridade” da humanidade, depois de termos ultrapassado a infância e a adolescência colectivas. Desta forma, os ensinamentos Bahá’ís relativos à investigação independente da verdade e à educação universal andam de mãos dadas com a abolição do clero, conforme ordenado por Bahá’u’lláh. Ele diz-nos que devemos agora assumir a responsabilidade pelo nosso próprio crescimento e bem-estar espiritual, e não podemos mais colocá-la nas mãos de sacerdotes.

Em vez de uma classe sacerdotal, Bahá’u’lláh concebeu uma ordem administrativa eleita democraticamente a nível local, nacional e global. Em cada localidade Bahá’í onde existam nove ou mais crentes, todos os anos é eleita uma Assembleia Espiritual Local entre os crentes adultos da localidade. Os membros destas Assembleias não são clérigos ou sacerdotes. Eles são apenas Bahá’ís que os seus companheiros de fé consideram possuir um espírito de devoção com mentes bem treinadas e experiência madura. Os Bahá’ís de todo o mundo elegem as suas Assembleias Espirituais Locais no dia 21 de Abril, que assinala o aniversário do dia em que Bahá’u’lláh deu a conhecer a Sua revelação em Bagdade, em 1863.

Em cada país, os Bahá’ís também elegem anualmente uma Assembleia Espiritual Nacional, entre todos os Bahá’ís. Nos Estados Unidos, isto é feito através de um sistema de delegados eleitos localmente que viajam até Wilmette, Illinois, para votar nos nove membros desse órgão nacional, e consultar sobre assuntos que afectam as comunidades.

A cada cinco anos, a comunidade mundial Bahá’í elege a Casa Universal de Justiça, cujos membros residem em Haifa, Israel, e reúnem-se no Centro Mundial Bahá’í, no Monte Carmelo. Neste caso, os eleitores são os membros das Assembleias Espirituais Nacionais, que viajam até Haifa para participar na eleição.

Os principais deveres destes órgãos eleitos são ensinar e proteger a Fé, e salvaguardar as comunidades que administram.

Agora, aqui estão algumas coisas que eu achei únicas e revolucionárias, quando, na minha adolescência, investigava a Fé Bahá’í:

  • As eleições Bahá’ís não têm um carácter político – não há candidaturas, nem propaganda eleitoral, nem competição eleitoral. Alguém que fizesse campanha para ser membro de uma Assembleia Espiritual, estaria a excluir-se simplesmente por mostrar um comportamento que demonstrava a sua falta de compreensão sobre o papel espiritual da Assembleia e das qualificações ideais dos seus membros.
  • Cada órgão administrativo Bahá’í tem uma autoridade que lhe foi concedida pela palavra escrita do próprio Bahá’u’lláh. Estes órgãos administrativos não são uma invenção dos Bahá’ís com o propósito de organizar as suas comunidades.
  • Bahá’u’lláh deu autoridade a estes órgãos apenas como instituições. Os membros individuais não têm autoridade individual, títulos honoríficos ou privilégios acima de qualquer outro Bahá’í. Portanto, embora eu seja membro da Assembleia Espiritual dos Bahá’ís da minha cidade, a minha opinião é apenas a minha opinião. Não tenho nenhuma autoridade individual.

Os “líderes” da comunidade Bahá’í devem considerar-se servos dos servos de Deus. Por outras palavras, para os Bahá’ís o conceito de liderança geralmente aceite está invertido.

A ordem administrativa Bahá’í assenta noutra faceta única da Fé. Embora os profetas anteriores indicassem verbal ou implicitamente quais dos seus seguidores deveriam liderar a comunidade de crentes após a sua morte, Bahá’u’lláh estabeleceu uma aliança formal com os Seus seguidores. Estabeleceu claramente que o Seu filho ‘Abdu’l-Bahá – o intérprete autorizado dos Seus ensinamentos e o exemplo do que significa ser Bahá’í – era o centro da sua Aliança, e a única pessoa a quem todos os Bahá’ís deveriam recorrer para orientação.

‘Abdu’l-Bahá, por Sua vez, nomeou o Seu neto Shoghi Effendi como Guardião da Fé, e encarregou-o de preparar os Bahá’ís para a eleição da primeira Casa Universal de Justiça. Isto aconteceu pela primeira vez em 1963. Sobre estas instituições espirituais, Bahá’u’lláh escreveu no Seu Livro Sagrado:


O Senhor ordenou que em cada cidade seja estabelecida uma Casa de Justiça, onde se reúnam conselheiros (…) Cabe-lhes serem os fidedignos do Misericordioso entre os homens, e considerarem-se como os guardiões nomeados por Deus para todos os que habitam na terra. Incumbe-lhes consultar juntos e ter consideração pelos interesses dos servos de Deus, por amor a Ele, assim como consideram os seus próprios interesses, e escolher aquilo que é adequado e apropriado. Assim vos ordenou o Senhor vosso Deus.

A ordem administrativa Bahá’í é, portanto, a expressão actual da Aliança de Bahá’u’lláh. Nos últimos 180 anos, protegeu com sucesso a Fé Bahá’í contra os cisma. Não existem facções ou seitas Bahá’ís. Ainda assim, houve pessoas que tentaram dividir a Fé, mas falharam pela mesma razão que falharia uma campanha eleitoral para uma instituição Bahá’í. A expressão do ego que se evidencia nesse esforço é contraditória ao espírito da Fé.


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Traduzido e adaptado do texto original: What Makes the Baha’i Faith Different from Other Religions? (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha’i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.



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